sexta-feira, 30 de março de 2012

Entrevista Amanda Lourenço


“As pessoas costumam achar que as fotos são só uma ilustração visual do texto, mas elas são muito mais que isso”
Por: Camila Pasin

A fotógrafa Amanda Lourenço, formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, fala sobre a influência do fotojornalismo no mundo contemporâneo e como esse “poder” da imagem é utilizado pela imprensa:

Como você enxerga a influência do fotojornalismo na sociedade atual?


Existe hoje, mais do que nunca, a vertente do jornalismo assumidamente parcial. Mas mesmo os veículos com posturas ou posições políticas declaradas costumam ser sutis nessa influência que exercem, e acho que o fotojornalismo é, trabalhando em conjunto com o texto, a ferramenta que mais pode favorecer esse tipo de subliminariedade. O melhor exemplo que consigo me lembrar disso é aquela foto clássica do Hugo Chávez que Lula Marques, fotógrafo da Folha, fez em 2008, que virou capa do jornal.
Acho que essa é uma das melhores sacadas com enquadramento em fotojornalismo que eu conheço. E, no caso dessa capa, pouco importa a notícia, a própria foto contém a mensagem.

 
Então você acha que, às vezes, a imagem pode falar muito mais do que o próprio texto escrito na matéria?
A depender da intenção do repórter, do diagramador e do editor, sim. E a fotografia devidamente selecionada é um tipo poderoso de entrelinha, porque inevitavelmente a primeira coisa que você vê numa notícia é a imagem, nem o título, mas a foto mesmo, se ela estiver em destaque. E as pessoas costumam achar que as fotos são só uma ilustração visual do texto, mas elas costumam ser muito mais que isso.

E quando a arte de fotografar deixa de representar o real e passa a ser um jogo de interesses?
Acho que tudo é sempre um jogo de interesses. É o interesse do fotógrafo versus o interesse do veículo pra quem ele trabalha versus o interesse do fotografado. Costuma ser sempre assim... Mas nunca deixa de ser uma arte por isso.
Usando como exemplo a foto de Lula Marques, de novo. Eu não sei qual a postura política dele, se ele é a favor ou contra o Hugo Chávez. Aí cabe ao veículo que comprar a foto dar seu devido significado a ela, apesar de qualquer pré-interpretação que ela possibilite por causa do trocadilho com o Mickey. Mas nem por isso ela deixa de ser uma foto incrível, sabe?
E é isso que você disse, a fotografia no fim das contas é só uma representação, e por isso mesmo ela dá margem a tantas interpretações.

E imparcialidade? É possível praticá-la no fotojornalismo?
A partir do momento em que um assunto é fotografado, ele já se torna a opinião parcial de quem o está fotografando. Afinal, escolher fazer o enquadramento “x” e não “y” de um assunto fica sempre a critério do fotógrafo, e isso já é uma interpretação do real, e não uma representação fiel dele.

Amanda, qual sua opinião sobre a influência da fotografia em situações delicadas, por exemplo, as Ditaduras ou o padrão de beleza atual?
Acho que a influência é total, né? E não é à toa que a fotografia é aliada tão forte de todo o tipo de mensagem, seja ela boa ou má.

Em relação às campanhas antitabagismo/alcoolismo/drogas? Na sua opinião, o que as torna eficazes ou não?
Acredito que elas podem provocar um choque até, mas é só uma questão de virar o maço de cigarro ao contrário... E é um tipo de campanha que eu tenho minhas dúvidas se quer realmente ser eficaz. Pelo menos essas campanhas antitabagismo. Mas, nesse caso, eu só acho que não funciona porque nada mais choca as pessoas, visualmente.
Podemos pegar como exemplo as milhares de fotos de crianças passando fome, ou de bebês jogados no lixo, animais maltratados e essas dezenas de imagens que aparecem no facebook volta e meia. Elas provocam um choque, causam um desconforto, mas é temporário.
Hoje em dia há uma avalanche de informações visuais tão grande, que basta um minuto para a pessoa se distrair. Talvez seja por isso que não funciona. Então por mais que uma imagem tenha o poder de influenciar uma pessoa, ela, ao mesmo tempo, tem uma influência de duração cada vez mais curta, por causa do excesso de informações. E uma influência passageira, no caso das campanhas, acaba não surtindo efeito.

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